Um saludo aos amigos que gostam de enfurquilhar seja a trabalho ou lazer. Aos paisanos que amam a raça crioula, a melhor entre os eqüinos e fazem de sua convivência com o pingo, arreios, montaria praticamente uma religião das mais sagradas e puras, amadrinhada pelos caudilhos antepassados que se enchem de orgulho ao ver um vivente bem enfurquilhado batendo estrivo com sol

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Buenas gauchada



Morfologia


MORFOLOGIA CAVALO CRIOULO




                Os resultados das pistas balizam  a seleção e norteiam os rumos do futuro da Raça .
                Por essa razão considero o julgamento um assunto de MÁXIMA RELEVÂNCIA que deve ser aberto à discussão pela ABCCC  despojado do estigma da homenagem e do amadorismo passando a tratar o assunto com o profissionalismo e o cuidado que ele merece.
                Essa discussão que não deve ser encarada como uma crítica à capacidade técnica do corpo de jurados. Apesar de  contarmos com excelentes jurados, cada um deles penaliza e bonifica diferentemente as deficiências e as qualidades morfológicas. 
                A inexistência de um método com parâmetros definidos num regulamento de  julgamento morfológico  do Cavalo Crioulo é a principal causa das discrepâncias  dos resultados nas pistas, principalmente na etapa morfológica do Freio de Ouro,  quando se atribui notas à classificação além dos concursos morfológicos das exposições .
                Não quero citar exemplos dessas disparidades ( algumas escabrosas), para não individualizar o problema e causar mais polêmica do que o assunto já contém. Isso é de conhecimento público e os casos se repetem anualmente em todas as etapas.
                                               O JULGAMENTO DE ADMISSÃO
                O primeiro passo  para qualquer julgamento morfológico é a ADMISSÃO.
                PARA QUE SERVE O JULGAMENTO DE ADMISSÃO?
                A admissão serve para ADMITIR COMO APTO A JULGAMENTO  o animal apresentado.               Para tanto o jurado de admissão deve medir o animal, e observar seu enquadramento dentro do padrão da Raça, além de verificar sua condição física e qualquer tara ou defeito grave que venha a apresentar.  Verificado qualquer problema o Jurado de admissão DEVE, NO MÍNIMO, COMUNICAR AO JURADO DE PISTA ALERTANDO-O  SOBRE  O ANIMAL, e até elimina-lo do certame conforme a gravidade do caso.
                Em qualquer Raça, de qualquer espécie a admissão funciona assim. Existe inclusive um regulamento de admissão.
                No Cavalo Crioulo não. A admissão é  “para inglês ver”, é um procedimento para cumprir tabela, sem a menor importância e nenhuma consequência.
                 Animais com uma alçada de menos de 3 cm que a mínima exigida, já foram contemplados com nota morfológica acima de 7,3 numa final do Freio de Ouro. Três possibilidades podem ter ocorrido neste caso :
                                 a ) Os jurados foram ludibriados por uma admissão mal feita.
                                 b) Os jurados não deram importância ao fato, mesmo  constando da súmula.               
                                 c) Há uma “orientação” aos jurados de admissão para que as medidas                                                                  “forçosamente “ estejam dentro dos parâmetros do standard.
                Qualquer uma das três possibilidades é profundamente lamentável.
                                Podemos até admitir que a marca não pode ser retirada, mas aceitar a participação numa exposição , onde se pretende mostrar o que há de melhor na Raça, de um animal fora dos padrões mínimos exigidos e ainda por cima premiá-lo com 7,3 é um descaso completo ao Regulamento .
                Se um parâmetro MENSURÁVEL como a alçada é completamente ignorado imagine o resto. O mínimo a ser feito num caso como esse seria  penalizar o animal, colocando-o no final da fila, quando o normal, seria desclassifica-lo para o evento mais importante da Raça.
                CHEGUEI A CONCLUSÃO QUE A ADMISSÃO É UMA ENCENAÇÃO, SEM A MÍNIMA CREDIBILIDADE E NENHUMA UTILIDADE.
                                                              
                              A TIPICIDADE
                Iniciando o Julgamento, a tipicidade deve ser avaliada em primeiro lugar.
                A falta de tipicidade pode ser grave , moderada ou  leve.
                É grave a atipicidade quando vários caracteres morfológicos não são típicos da Raça e a combinação deles põe em dúvida a origem do animal. Essa é uma deficiência GRAVE e como tal deve ser penalizada severamente. Exemplo : marcha trotada ou batida, conjuntos de cabeça pescoço e paleta comprometidos pela atipicidade.
                Moderada é a falta de tipicidade em uma ou outra parte do fenótipo, que mesmo  não comprometendo  totalmente o animal deve ser levada em conta com uma penalização moderada. Um bom exemplo é uma cabeça  ou uma garupa atípica, uma cola fina com pouca cerda etc.
                Leve é a atipicidade de detalhes como orelha, focinho, quartelas compridas , cabeça com pouca distância entre os olhos, excesso de pelos no machinho. A penalização por esse tipo de falta de tipicidade deve ser leve, mas deve ocorrer.
                Há caracteres atípicos que surpreendentemente, além de não serem penalizados,  vêm sendo valorizados nos julgamentos:
                1 Garupas planas
                     A angulação ideal de garupa do Cavalo Crioulo é definida como SEMI OBLÍQUA em                      nosso padrão racial. Garupas planas são atípicas devem ser penalizadas ao invés de                                    premiadas.
                2 Excesso de relevo muscular
                     Temos presenciado animais com um relevo muscular completamente atípico sendo                                     premiados . Cavalos com 600 Kg são considerados “normais” em nossas exposições                                   quando nosso padrão racial determina um máximo de 450 Kg. O Cavalo Crioulo NÃO                 TEM UM RELEVO MUSCULAR ACENTUADO. É  um cavalo sóbrio, de musculatura                                    discreta e  formas arredondadas, que nem de longe lembram a musculatura de um                              Quarter    Horse.
                3 Excesso de comprimento dorso lombar.
                      A retangularidade levada ao extremo tem premiado animais que parecem Crioulos                                      tipo “Basset Hound”. Para tudo há um limite, principalmente quando devidamente                     EXPRESSO EM NOSSO STANDARD  que recomenda : DORSOS MEDIANOS.
                4 Leveza de pescoço é uma qualidade que buscamos fixar em nossas manadas .                                Porém é comum a preferência por animais “degolados”, com um pescoço                                                   excessivamente fino chegando a ser débil na junção com a paleta.
                    A angulação de paleta, que determina o ângulo de  inserção do pescoço é mais                              importante  que a própria “leveza” do pescoço, já que se constitui num fator                            COMPENSATÓRIO no caso de um pescoço mais forte.
                É preciso cautela com as TENDÊNCIAS  ditadas pelo gosto pessoal , que se transformam em MODISMOS e vão se espalhando e tomando conta de nossas pistas, principalmente quando confrontam com o Padrão da Raça estabelecido no  Regulamento do SRG.
                Uma definição clara das penalizações por falta de tipicidade tornariam os julgamentos mais compreensíveis e menos polêmicos, dando uma maior uniformidade nos critérios de avaliação.
                É necessário que se defina QUAL É A PENALIZAÇÃO A SER APLICADA nos diversos graus de atipicidade, assim como nos outros caracteres morfológicos que abordaremos no próximo post.
                Boa Tarde                                         
Postado há por
fonte: cavalo crioulo ok 

terça-feira, 22 de julho de 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Maria, rogai por nós

Catedral de Santa Maria, em foto do saudoso colega Pedro Farias da Cunha

O Janeiro em que o Brasil me perdeu

Marcelo Canellas (*)



Eu hoje tenho 20 anos e quero me divertir. Meus pais estão dormindo em casa e amanhã haveria um churrasco. Eu tenho a vida pela frente e quero mudar o mundo. Mas também quero namorar, dançar, rir, andar a esmo com amigos nas lombas íngremes da minha cidade. Eu sou feito da bafagem úmida da Serra Geral, dos morros que circundam a Boca do Monte, do eco metálico dos trilhos de outrora, da lembrança ancestral da Gare onde meus avós trabalhavam. Ainda que eu não tenha nascido aqui, eu tenho o viço púbere do futuro. Eu posso ter vindo das barrancas de Uruguaiana, das campinas de São Borja, das grotas de Santiago do Boqueirão, das videiras de Jaguari, de São Pedro do Sul, São Sepé, São Gabriel, Dom Pedrito, de cima da serra, não importa. Santa Maria sou eu, cidade cadinho, generosa e aldeã, que nos pariu a todos em seu útero colossal.



Eu sinto o afago do vento norte, eu vejo anciãs tomando mate na janela e cadeiras nas calçadas da Vila Belga em uma tarde quente de janeiro. Eu tenho o lastro interiorano de minha cidade, mas também as narinas abertas, os ouvidos atentos, os sentidos despertos para o que enxergo na face jovem de uma urbe sempre aberta ao novo, cosmopolita e inquieta, convidando-me para a festa da vida. Por isso celebro, brindo, bailo. Tenho o frescor do campus em meus modos, a avidez universitária do saber. Recebo, faceiro e agradecido, convite do conhecimento, as portas do desconhecido a me cortejar. Como eu não quereria viver? Então entro numa boate e não tenho mais voz, não tenho mais planos, não tenho saída.



Rogo a todos os que andaram sobre os paralelepípedos da Rio Branco para me salvar. Quero correr e suplicar socorro a quem me possa acudir. A bênção, Carlos Scliar. A bênção, Raul Bopp. A bênção, velho Cezimbra Jacques, meu Prado Veppo, a bênção Felippe d’Oliveira. Iberê Camargo, tu que estudaste no Liceu de Artes e Ofícios, ali bem perto de onde a primeira faísca espocou, a bênção. A bênção, todos os artistas e poetas da Boca do Monte. Precisamos de vocês para explicar o sentido do inexplicável. Vocês, que tiveram tempo para luzir, expliquem-nos: por que temos de findar?

Como posso adormecer, se mal despertei para o mundo? Como posso abdicar, se não brinquei o suficiente, não amei o bastante, deixei incompleto o edifício da minha história? Eu não choro só por mim, e nem meu pranto cai sozinho. Minha cidade é hoje o Brasil em luto. Minha juventude perdida é o meu país, perplexo e tonto, impotente a velar meu corpo. Santa Maria, rogai por nós.
(*) Marcelo Canellas é repórter da Rede Globo. 
Texto publicado no jornal Zero Hora e no Diário de Santa Maria, terra natal do autor.
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012



                                                  



                        AVALIAÇÃO DE UM CAVALO DE SELA II

                               
                A ESTRUTURA DO CAVALO E AS  ANDADURAS.


               
                O julgamento ou avaliação morfológica nada mais é que a análise das proporções e equilíbrio corporal do cavalo,  da correção da estrutura que lhe dá sustentação e determina a qualidade de seus movimentos, da qualidade de suas características e do padrão racial.
                Determinar o que é “bom” ou “mau” em termos de morfologia, depende basicamente da compreensão da biomecânica equina, ou em outras palavras, como funciona o corpo do cavalo em movimento para o uso ou função que se destina.
                Há um padrão morfológico universal para os  cavalos de sela, independente do grupo racial a que pertençam, dessa maneira todas as raças buscam estar inseridas nesse padrão, sem prejuízo da tipicidade racial de cada uma.


                As diferenças de biótipo entre as raças equinas, dizem respeito ao uso do cavalo ou à  função a que se destina, sem fugir da proporcionalidade das formas, da simetria da estrutura e equilíbrio do conjunto. O equilíbrio, a estrutura e as andaduras são os aspectos mais importantes na hierarquia da avaliação e seguem a risca esses padrões.         
                As consequências impostas ao movimento, pelos desvios da estrutura e do equilíbrio, antes somente constatadas pela experiência e observação dos mestres em equitação, hoje podem ser facilmente visualizadas com o uso de técnicas de filmagens, onde os pontos vitais das articulações e os eixos de força podem ser analisados com precisão.

                                Não vou aborrecer os leitores citando todos os desvios de estrutura e aprumos que todos estão cansados de saber. Quero fixar-me em alguns aspectos que por qualquer razão NOSSAS AVALIAÇÕES DESPREZAM OU SIMPLESMENTE IGNORAM .
                 O objetivo da postagem é questionar nossas avaliações quanto a alguns aspectos vitais da estrutura e das andaduras completamente esquecidos em nossos julgamentos, assim como a MAXIMIZAÇÃO de paradigmas sem  importância ou modismos, que nos distanciam do padrão universal do cavalo de sela.

            AS ANDADURAS NO JULGAMENTO MORFOLÓGICO


                Creio que o “modelo” de nossas avaliações morfológicas não evoluiu absolutamente nada em 80 anos. Seguimos a mesma sistemática do tempo dos primórdios da Raça em que entravam na pista de julgamento vinte ou trinta animais conduzidos a cabresto.
                Hoje com mais de uma centena de animais concorrendo, não creio seja possível por exemplo avaliar as andaduras dos animais encilhados da forma como fazemos, tornando essa fase do julgamento morfológico mais um RITUAL que propriamente uma avaliação.                    É certo que o jurado pode nesse momento fixar sua atenção nos animais extremos, isto é , um ou dois de boas andaduras e mais um ou dois de péssima andadura, porem isso não é suficiente mesmo porque o comparativo é feito somente naquela fila.
                Não há uma pontuação para as andaduras, nem tampouco anotações em planilha, que permitam ao jurado, na fase dos campeonatos, a comparação de animais de várias filas que ainda não se confrontaram.
                Com a impossibilidade de julgar as andaduras na fase dos campeonatos resta ao jurado avaliar o deslocamento dos animais puxados a cabresto A EXEMPLO DOS JULGAMENTOS DE BOVINOS.

                Há uma diferença enorme entre as andaduras de um cavalo encilhado com suas andaduras naturais ou a simples “puxada” a cabresto.
                Um animal pode caminhar muito bem  apresentado a cabresto  e deslocar-se completamente diferente quando montado.
                De resto a avaliação do movimento a cabresto nos dá somente uma noção do AVANÇO AO PASSO, sem o peso do ginete, o que convenhamos, é muito pouco para julgar o conjunto das andaduras.
                Para se julgar as andaduras é imprescindível que elas sejam executadas em linha reta e não em círculo, um trajeto triangular é o que se usa mundialmente, obrigando  o cavalo estender a andadura nas linhas retas e reduzi-la nos vértices do triangulo.
                Como ensina Bayard Bretanha Jaques :
               
                “ Mais um detalhe é que qualquer
            prova de andadura deveria
            ser julgada em linha reta, pois
            quando se trata de simetria, condição
            desses andares, não podemos
            prescindir da linha reta.”


             Ouço comentários de jurados que determinado animal CAMINHOU MUITO BEM, isso reflete bem o caso em questão: impossibilitado de julgar as andaduras pelo “modelo” de julgamento, avalia o deslocamento a cabresto, deixando a impressão (muitas vezes falsa) que o animal tem excelentes ou péssimas andaduras. 
                Já presenciei animais com excelentes andaduras quando montados, que não CAMINHARAM a cabresto sendo penalizados por isso. Na verdade tinha que ser premiado, já que as andaduras que queremos selecionar são as de um CAVALO DE SELA.
                São conceitos que se firmaram mais pelo costume, pela “onda”, tornando-se modismo sem que ninguém saiba de onde surgiram ou quem inventou.         O certo é que tornaram-se “verdades” que passaram a balizar as avaliações.
                Algumas são completamente infundadas sem o menor suporte ou comprovação técnica, que por falta de parâmetros e método de julgamento, levam o jurado a “dançar conforme a música” e até cometer erros involuntários.
                               Por outro lado ninguém sabe QUE TIPO DE ANDAURA deve ser apresentada.

                               Há o passo, o tranco, o passo estendido, o trote , o trote chasquero, o trote alongado , o trote reunido. Da mesma forma o galope pode ser apresentado de diversas formas.
                                Qual delas o julgamento exige?
                               Ninguém sabe, por que na realidade não se julga, cumpre-se um ritual no qual o tipo de andadura de cada fila é determinado pelo cavalo que vai na ponta.
                               Um método de julgamento que permita ao jurado uma avaliação correta das andaduras é uma coisa simples de ser implantada, basta vontade para mudar, para aprimorar nossas avaliações e consequentemente a Raça Crioula.

                        A ESTRUTURA NOS JULGAMENTOS 


      
                                Alguns caracteres morfológicos ligados à estrutura e VITAIS ao movimento do cavalo são completamente ignorados, como se não tivessem a menor importância, como é o caso das quartelas, do codilho e dos aprumos sob o ponto de vista lateral.
                A correta inclinação da espádua tem sido motivo de atenção de nossos jurados com toda a razão. No entanto esquecemos completamente do CODILHO (cotovelo) que em última análise completa a ação do ângulo da escápula e do úmero , formando com este último e o rádio( braço),  uma ângulo que terá consequência DIRETA no avance e na amplitude dos membros anteriores : o ângulo úmero radial.

                Além disso, a posição do codilho determina a correção dos aprumos dianteiros do ponto de vista frontal: O codilho deve ser afastado do corpo do cavalo de maneira que permita a passagem da mão com folga. Codilhos apertados (aqueles que se unem ao tronco) é uma falha grave  de conformação, mais grave que o “apertado de frente” ( pouca abertura de peito, ou pouca distância entre a ponta das escápulas).
                Erroneamente damos maior importância à abertura de peito, penalizando sua pequena amplitude e esquecemos completamente da posição dos codilhos, que na verdade desempenham um papel muito mais importante na biomecânica equina.
                As consequências do cavalo “apertado de peito” em termos do movimento são praticamente desprezíveis, ao passo que um codilho demasiadamente afastado  torna o cavalo “caravanho” ( com as pinças do casco para dentro), já um codilho apertado torna o cavalo “esquerdo”( com as pinças para fora), são as conclusões de  W. Back em Intra-limb coordination:  Equine Locomotion,  London: Saunders, 2001. pag. 95-134.
                Quanto as quartelas o desinteresse é surpreendente.
                Se levarmos em conta que um cavalo desenvolvendo um movimento brusco ao galope, suporta em um de seus membros uma carga equivalente a 1.600 Kg, podemos avaliar a importância da correção da quartela, que funciona como amortecedor do impacto e como aponta da alavanca propulsora, concentrada numa área tão pequena. 

                Uma quartela muito curta não amortece os impactos, ao passo que quando muito comprida, sobrecarrega os tendões além de descompensar o ângulo com os cascos causando um excesso de pressão nos talões.
                Nunca vi em nossos julgamentos e avaliações uma penalização por incorreções ou desvios angulares da quartela, tampouco ouvi comentários sobre uma angulação e comprimento corretos e seus benefícios para o desempenho do cavalo. 

                Um aspecto que damos pouca importância, pelo menos nunca ouvi um comentário sobre isso em qualquer julgamento são os aprumos chamados laterais.
                É praticamente nula a avaliação dos aprumos do ponto de vista lateral em nossos julgamentos. Basta observar uma grande quantidade de cavalos premiados com desvios totais de aprumos. Confira o assunto e as imagens no posthttp://cavalocrioulook.blogspot.com.br/2012/01/os-julgamentos-e-os-aprumos.html.

                A causa das polêmicas sobre a avaliação dos aprumos é a falta de definição em regulamento dos VALORES DE IMPORTÂNCIA das qualidades e dos defeitos. Enquanto não tivermos uma definição regulamentar sobre isso as dúvidas e a polêmica não terão fim.  
               

                                       O PESCOÇO
               
                O pescoço por ser a parte mais flexível da espinha dorsal, funciona como elemento de  equilíbrio e contrapeso no movimento do cavalo. Com uma influência direta na maneabilidade e no estabelecimento correto do centro de gravidade; o  cavalo usa o seu pescoço como “um braço de equilíbrio”.

                A conformação do pescoço e sua implantação na espádua são essenciais para o movimento do cavalo montado. 
                Um pescoço extremamente leve será por consequência excessivamente  flexível e móvel o que possibilita ilimitadas possibilidades de “escape”( reação) ou evasão no treinamento.
                 O fluxo de energia criado pelos posteriores percorre a linha superior do cavalo, atingindo seu pescoço, que como leme do seu corpo, definirá com seu posicionamento a passagem ou a obstrução desse fluxo de energia.

                Segundo Johann Riegler, ginete superior da Escola Espanhola de Equitação de Viena:
                “A energia criada para o deslocamento será eficaz na medida que não haja obstáculos que interrompam ou dispersem parcialmente sua transmissão;          esses obstáculos comumente estão localizados na musculatura do lombo e do dorso, mas na maioria das vezes são consequências de um posicionamento errado do músculo superior do pescoço. Esses obstáculos podem ter origem estrutural ou de má condução, ou ainda de ambos. “


                Pescoços invertidos, curtos demais, longos demais ou muito finos,  de várias maneiras obstruem o fluxo de energia tendo como consequência a falta de impulsão, reações de vários tipos e o mais grave: impedem a colocação dos posteriores sob a massa corporal .
                A proporcionalidade do pescoço pode-se conferir da seguinte maneira : o comprimento do bordo superior deve ser o dobro do bordo inferior, o mesmo comprimento dos membros anteriores e a metade do comprimento do corpo do cavalo.

                É lógico que o comprimento do pescoço depende da angulação da espádua, isso quer dizer que uma espádua vertical aumenta o bordo inferior e diminui o bordo superior, ao revés de uma espádua oblíqua ( ao redor dos 50º em relação ao solo)
                O pescoço DEGOLADO ou PESCOÇO DE ANZOL, é o novo modismo sujeito a exageros, e parece  que já “pegou.”  Para os adeptos do novo paradigma não basta o pescoço ser leve, proporcional, bem implantado na espádua, com o comprimento do bordo superior proporcional ao bordo inferior; tem que ser degolado.

                Eu gostaria de saber quem é, ou quem são os inventores desses termos  que por incrível que pareça,  alastram-se  transformam-se em  “verdades” que invariavelmente chegam ao exagero como foi o caso do “perto do chão” que mal interpretado tornou-se um paradigma nos julgamentos e foi a principal causa de algumas gerações de petiços.
                Os excessos gerados pelos modismos nascem em razão da omissão regulamentar e proliferam nos julgamentos morfológicos e passam a balizar a seleção dos desavisados. 
                O excesso de comprimento corporal é outro exagero ocasionado pela falta de parâmetro e vem sendo usado e abusado em nossas avaliações, como se fosse uma “qualidade estrutural”.
                O padrão universal do cavalo de sela prega que o comprimento do corpo do cavalo deve ser igual a sua alçada, ou próxima a isso, no entanto nós estamos nos afastando desse padrão há algum tempo com a  estória exagerada da RETANGULARIDADE.
                Esse paradigma passou a reger  os julgamentos e tornou-se uma “verdade “ nunca contestada completamente antagônica ao padrão racial que estabelece que o Cavalo Crioulo deve ser MEDIOLÍNEO em função de seu dorso, lombo, pescoço e garupa todos de mediano comprimento segundo o Padrão Racial estabelecido no Regulamento do Registro Genealógico       
                O exemplo dessa TENDÊNCIA EXAGERADA À RETANGULARIDADE é o relatório do estudo biométrico da Raça, que está sendo feito pela  Universidade Federal de Pelotas onde as fêmeas participantes da Expointer apresentam uma ALÇADA MÉDIA DE 1,41 M. e um COMPRIMENTO DO CORPO QUE CHEGA A 1,62M. , ou seja, quase 20% acima dos padrões internacionais do cavalo de sela.
                Muitos comentários de julgamento enaltecem  a “BOA RETANGULARIDADE”. Confesso que sou péssimo em geometria  por isso não consigo identificar um BOM E UM MAU RETÂNGULO, nem tampouco encontrei alguém que definisse essa qualidade da figura geométrica.
                Segundo Kylee Duberstein, especialista em biomecânica equina da Universidade da Georgia,  um lombo comprido geralmente é sinal de fraqueza nessa área. O tensão da musculatura lombar causa reações  que refletem na cabeça e no pescoço na execução de movimentos curtos que exijam explosão.

                É ponto pacífico que o Cavalo Crioulo não deve distanciar-se em demasia dos padrões universais do cavalo de sela.  
           Essa é uma condição “sine qua non” para a expansão da Raça Crioula no Brasil e outros continentes. Quanto mais nos afastarmos desses padrões mais distantes estaremos do lugar de destaque que o Cavalo Crioulo merece na equinocultura mundial.
                Uma visão crítica de nossas avaliações é o primeiro passo para alargarmos nossos horizontes traçando uma trajetória muito além das fronteiras que nós mesmos impomos ao nosso cavalo.
                O “mundo do cavalo crioulo” é muito pequeno para ele, cabe a nós leva-lo mais longe.

                A lição do gaúcho do Alegrete é pertinente:
                          “ Eu não tenho paredes.
                        Só tenho horizontes!!”
                                   Mario Quintana

fonte: cavalo crioulo ok