Um saludo aos amigos que gostam de enfurquilhar seja a trabalho ou lazer. Aos paisanos que amam a raça crioula, a melhor entre os eqüinos e fazem de sua convivência com o pingo, arreios, montaria praticamente uma religião das mais sagradas e puras, amadrinhada pelos caudilhos antepassados que se enchem de orgulho ao ver um vivente bem enfurquilhado batendo estrivo com sol

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Chile abandona a FICCC

CRIOULO OU CHILENO - A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

  

É  lamentável  a saída do Chile da FICCC sob o ponto de vista estratégico  e de integração regional, representando sem dúvida um retrocesso  no projeto de internacionalização do cavalo sul americano.
Há dois aspectos a serem analisados o zootécnico e o institucional da marca CRIOULO.
Sob o ponto de vista zootécnico , com certeza nossos amigos transandinos tem muito mais a perder que nós outros.
Enquanto nos aproveitamos da heterose propiciada pelo cruzamento, eles não foram competentes o suficiente para ter o mesmo resultado ao revés ( cruzamento com crioulos).
Está claro que as linhas de sangue mais importantes do Chile, há muito tempo foram introduzidas nos países FICCC,  que com criadores  de visão e mente aberta , souberam tirar proveito dessa genética, produzindo um cavalo superior aos seus ancestrais originais.
Outro ponto importantíssimo  a ser levado em conta sob o ponto de vista genético, é a origem dos reprodutores  chilenos que  realmente tiveram papel melhorador em nossas manadas.
Curiosamente a maioria absoluta eram cavalos de origem Aculeguana ( Criadero Aculeo) e La Invernada ( esse consequência daquele). Somente dois  cavalos   - Señuelo e Comediante- que a meu ver foram decisivos no melhoramento  fogem dessa regra, mesmo assim a partir da 4ª e 5ª gerações contam com Cristal e Quebrado projetando uma “linebreeding “ na origem Aculeguana.

Ocorre que esses criaderos não existem mais  e o maior número dos descendentes geneticamente mais próximos oriundos do Aculeo e La Invernada , seguramente estão no Brasil  e na Argentina.
Nunca é demais lembrar também, que o grande avanço ocorreu com os produtos  F1 ( meio sangue) até no máximo  com os F2 ( 3\4 ) , o que revela nitidamente a expressão da HETEROSE, como já analisamos em postagens anteriores.
Dessa maneira, o que tínhamos de aproveitar geneticamente já o fizemos, o resto é perfumaria. Exceção  aos de origem La Invernada além dos outros dois citados,  o resto ( maioria absoluta) não acrescentou nada em nossas manadas, pelo contrário, introduziram uma série de caracteres indesejáveis que hoje são facilmente identificados como: falta de tipicidade e harmonia, alçada, estrutura perímetro toráxico, resistência e rusticidade.
Há que se ressalta em primeiro plano  a  falta de visão zootécnica por parte dos chilenos, e o extremo conservadorismo e nacionalismo , contrastando com o nosso excesso de “liberalismo”, quando  adotamos sem limites,  uma opção genética que ao fim e ao cabo, não nos garantiu a manutenção de  nossa  marca  “CRIOULO” .
A declaração peremptória do Chile -chileno sim, criollo não- sem dúvida nenhuma prejudica
 “ a imagem institucional” do Cavalo Crioulo como MESTIÇO.
O uso e abuso por parte dos leiloeiros  da expressão CHILENO PURO,  como condição qualitativa de venda, passa agora a ser depreciativa  já que  Cavalo Chileno não é Crioulo?
Nós juramos de pés juntos que CHILENO  é CRIOULO,  já  os chilenos  afirmam categoricamente o contrário : CHILENO SIEMPRE - CRIOLLO NO!
Tecnicamente por definição, somos na melhor das hipóteses MESTIÇOS ,e os cavalos chilenos  nascidos no Brasil TRANSFORMAM-SE EM CRIOULOS, como num passe de mágica, ou por CIDADANIA ADQUIRIDA .
Daí vem o prejuízo para a “imagem institucional” a que me referi  anteriormente.
De certa maneira perdemos nossa identidade CRIOULA  a partir do momento que exageramos na dose dos cruzamentos, e mais ainda, quando supervalorizamos com objetivos meramente comerciais, o simples fato da origem chilena, como se isso bastasse para definir qualidade ou garantia de sucesso.

Só nos faltou  sairmos dançando a cueca chilena, pois chapéus ponchos e arreios, completaram a pantomima ditada pela “moda chilena” que assolou os crioulistas brasileiros.
Nossos irmãos argentinos e uruguaios  sabiamente foram mais cautelosos ,usaram a genética chilena mas ainda conservaram manadas livres, possibilitando um “retorno às origens”  e abstiveram-se de  enfatizar a origem como argumento comercial.
Quando formos indagados se um cavalo é crioulo ou chileno qual será nossa resposta?
Parece muito simples mas não é.
Fui questionado por um  criador sobre uma situação hipotética ( não me pareceu tão hipotética )  : Uma conspiração chilena!
Minha primeira reação, foi dizer a ele que estava assistindo muito filme de espionagem, ou lendo demais a Mario Puzzo.

Com a insistência de meu amigo em sua hipótese, comecei a considerar a remota possibilidade dela ser verdadeira . Realmente algumas circunstâncias apontam nessa direção, senão vejamos:
Os compromissos com a FICCC somente deram problema quando os primeiros cavalos de origem estrangeira  começaram a entrar no Chile.
A negativa da Federação de Rodeo na participação de animais estrangeiros.
A gota d’água foi o decreto presidencial que sepultou a possibilidade da inclusão do nome CRIOLLO na nomenclatura da raça Chilena.
Os argumentos apresentados pela delegação do Chile na FICCC são no mínimo  hilariantes para não dizer primários demais: 
Alegaram que não tem competência para cumprir os acordos que assinaram.
Que os registros genealógicos pertencem a três ou quatro outras instituições.
Que não tem poder de decidir sobre as provas chilenas, e por fim o nome CRIOLLO não era possível ser incluído pelo decreto do governo.
E para arrematar : que não sabiam disso.
Ora minha gente! 
Como é que assinam um documento que estão impedidos de cumprir?
Durante todo esse tempo ninguém soube que era incapaz de firmar esses compromissos?
É muito difícil acreditar nisso!
Por essas razões a teoria da conspiração de meu amigo começa a ter algum fundamento, mormente depois de trinta anos de propaganda gratuita feita pelos brasileiros, que tornaram conhecido um cavalo que até então vivia enclausurado entre os Andes e o Pacífico.
No momento de maior expansão da Raça Crioula dentro e fora do Brasil, nós perdemos um pouco de nossa identidade, pelo menos teoricamente aos olhos de novos criadores e usuários que pretendemos conquistar nessas novas áreas, poderemos  ficar na situação incômoda de oferecer MESTIÇOS, ao passo que os chilenos oferecem  os PUROS .
 Os chilenos de parceiros tornaram-se da noite para o dia nossos principais concorrentes em potencial, e o pior, aproveitando-se do enorme e exagerado “marketing” que nós crioulista construímos nestes últimos trinta anos para o CABALLO CHILENO.
Se olharmos por esse prisma, a “jogada estratégica” dos chilenos cheira a conspiração, que embora soe meio fantasiosa, não está de maneira nenhuma fora de questão, mesmo porque para eles não resta outra opção.
Se houve  a conspiração deve ter muito chileno rindo de nossa cara, se não houve, somente o tempo dirá ,  enquanto isso temos que parar de puxar  brasa para a sardinha alheia e defender nossa marca : CAVALO É  CRIOULO   - CHILENO SÓ PARA TEMPERO.

fonte: Cavalo Crioulo OK

Um comentário:

  1. Excelente artigo, muito esclarecedor para quem não entendia o motivo da saída do Chile da FICCC.

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